História

Colaborador : Ney Garcia Sotello

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Assembléia de transformação da ASAM em ASPAM em 03 de maio de 1974: CMG Nuno Marques Pilar, Ney Garcia Sotello e o então CF Carlos Augusto Bastos de Oliveira, hoje Almirante-de-Esquadra.

Encontrava-me na Praça Amigos da Marinha, em São Paulo, assistindo às comemorações da Batalha Naval do Riachuelo neste 11 de junho de 1997, onde dois queridos amigos, Dr. Antônio Carlos de Castro Machado e Mansueto Pierotti recebiam a mais alta condecoração da Marinha do Brasil, a Ordem do Mérito Naval, quando tive a oportunidade de ouvir algumas novas versões sobre a fundação da Sociedade Amigos da Marinha SOAMAR.
As que então ouvi, suplementaram outras tantas, inclusive escritas ao longo desses últimos vinte e cinco anos, e entendi ser chegado o momento de prestar meu depoimento, calcado em fatos reais e documentos mais recentes.  Ao mesmo tempo, atendo pedido do Dr. António Carlos Rodrigues Branco, que há muito tempo deseja inserir a história da SOAMAR no já consagrado Fenamar Newsletter, hoje já disponivel para o Mundo através da lnternet.
Corria o ano de 1972.  E se a memória não me trair, em julho ou agosto, desempenhando minhas atividades de agente de navegação marítima, recepcionava convidados para evento a bordo de navio mercante brasileiro, que fazia escala em Santos, em viagem inaugural.
Dentre as inúmeras personalidades presentes, contávamos com o então Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Valentim Pereira Ferreira,  já falecido; fazia-se acompanhar do jovem Capitão-de-Fragata Carlos Augusto Bastos de Oliveira.
No decorrer do evento, ambos conheceram vários agraciados e condecorados pela Marinha, no Estado de São Paulo. Durante conversas informais, foi mencionado que todos os detentores de láureas tinham serviços prestados e poderiam continuar prestando-os, tanto à Marinha quanto à Nação. Mas, infelizmente, seus nomes após a cerimônia, caíram no esquecimento.
Foi lançada uma pergunta; ou melhor, um desafio: por que não se funda em Santos uma entidade congregando, se possível, todos os agraciados e condecorados pela Marinha do Brasil? Quem lançou o desafio foi o dinâmico e sem sombra de dúvida brilhante Capitão-de-Fragata Oliveira, cuja sólida amizade me privilegia até hoje.
A idéia desafiante foi levada ao conhecimento, e aprovada pelo Comandante do 6º Distrito Naval sediado em São Paulo, o já falecido Vice-Almirante Sylvio Magalhães de Figueiredo, que inclusive aumentou a responsabilidade dos que fossem se envolver na fundação da entidade, expressando o desejo de presidir a assembléia de fundação, na data magna da Marinha do Brasil – o Dia do Marinheiro – , naquele 13 de Dezembro de 1972.
Foi constituído um grupo sob a direção do então Comandante Oliveira, cujo espírito de liderança e desejo de realizar a todos incentivou e motivou. E, só dessa forma, foi possível transporem-se obstáculos e cumprirem-se todas as etapas, após longos e imensos esforços para a concretização do sonho, pleno de idealismo e brasilidade.
Era o dia 13 de Dezembro de 1972; quartel do então Grupamento de Fuzileiros Navais em Santos, onde hoje funcionam órgãos da Marinha do Brasil e ali se situa a sede da gloriosa SOAMAR – Santos.
Encerrada a cerimônia militar com a entrega de medalhas e condecorações, sendo um dos condecorados com o Mérito Tamandaré, a época o já consagrado futebolista Edson Arantes do Nascimento (Pelé), este, por motivo de viagem, teve que se retirar, o que o impediu de participar da assembléia instalada para a fundação da ASAM Associação Santista dos Amigos da Marinha.
Como de direito, a presidência coube ao Vice-Almirante Sylvio Magalhães de Figueiredo, que abriu os trabalhos, designando-me para conduzi-los sob a secretaria do Dr Antônio Carlos de Castro Machado (Caio).
Tiveram assento à mesa diretora dos trabalhos todas as autoridades civis e militares presentes, bem como a Comissão Fundadora.  Assinaram o livro de presença 93 pessoas, parte das quais figuram também da Ata de Fundação como participantes da reunião preparatória, realizada em 4 de dezembro de 1972, às 19:30 horas, na Capitania dos Portos do Estado de São Paulo.
Sua Excelência, o Vice-Almirante Sylvio Magalhães de Figueiredo, sempre lembrado por quem com ele conviveu, por sua inteligência e dotes de oratória que em poucos conheci, declarou fundada a ASAM – Associação Santista dos Amigos da Marinha,  fazendo votos que seus objetivos em prol da comunidade e da nação fossem atingidos e a semente lançada em solo tão fértil como Santos, berço de José Bonifácio, o criador da Marinha do Brasil,  frutificasse e se irradiasse por todo o Território Nacional.
Marcada a Assembléia Geral para o dia 1º  de Janeiro de 1973, na sede do Clube Internacional de Regatas, entidade social e desportiva que sempre apoiou a novel entidade,  foi eleita a primeira Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo. Os presentes concederam-me a honra de presidir a ASAM. Só aceitei porque, ao mesmo tempo, fui beneficiado com diretores brilhantes, cuja nominata, por absoluta falta de espaço, deixo de fazer.
Com poucas alterações, estivemos juntos, inclusive, quando, em 3 de maio de 1974, a ASAM,  para atingir todo o território do Estado de São Paulo, transformou-se em ASPAM- Associação Paulista dos Amigos da Marinha.
Ao longo dos anos,  tanto a ASAM como a ASPAM e atualmente a SOAMAR – Santos, vêm servindo de importante elo na comunidade para eventos culturais, sociais e patriátícos.
Recordo-me, com muita alegria, de uma época em que, com o apoio de vários abnegados, foi possível, através de concursos escolares, conceder bolsas de estudos a alunos carentes.
Havendo cumprido a minha missão, não como era desejado, mas dentro do possível, chegou a hora de passar a Presidência da ASPAM, em princípios de 1977, ao Dr. Carlos Rocha de Siqueira.  Aquele bom amigo, já falecido, prestante cidadão e respeitável Magistrado, que desde a fundação da ASAM não nos negou seus excelentes serviços, soube conduzir a entidade até transferir a Presidência ao Dr. Mauro Lúcio Alonso Carneiro. Na gestãodesse competente advogado ocorreu a criação da SOAMAR- Brasil, congregando todas as entidades então existentes, que passaram a se denominar SOAMAR.
E, numa merecida homenagem ao pioneirismo santista, o presidente da ASPAM, Dr.Mauro Lúcio Alonso Carneiro, na fundaçãoda SOAMAR-Brasil, foi eleito primeiro presidente daquela entidade nacional.
Tenho orgulho de ser Benemérito e Conselheiro Nato da SOAMAR- Santos e, com respeito, menciono os presidentes seguintes: Cte. José Console (1981/1982); Econ. Felício Agostinho de Purificação e Souza (1983/1984); Mansueto Pierotti (1987/1989  1990/ 1991   1995/1997); P.N.  Papadakis (1993/1994  1994/1995) . Com muita alegria de todos, essa respeitável figura mencionada no início do artigo, Mansueto Pierotti,  foi reeleito para novo mandato, de 1997 a 1999, que com a graça de Deus haverá de cumpri-lo com a garra de sempre.
Permitam-me algumas divagações.  Aquela semente plantada em solo santista, o que produziu? Hoje, congregadas na entidade nacional (SOAMAR –  Brasil), exitem 40 SOAMARES mais 4 Delegacias, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Hoje, seus membros, como vi em recente expediente do atual Ministro da Marinha, Almirante-de-Esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira, são denominados “Soamarianos”, muitos dos quais devem ter orgulho de serem filhos ou até netos dos então “Asamianos”.
Desejava mencionar dezenas de pessoas que já partiram para a viagem enterna; e inúmeras outras, felizmente vivas, que continuam servindo com dedicação, mas a memória poderia trair-me.
Mas, sobre pessoa, felizmente viva, por elementar princípio de justiça, destaco e rendo homenagem ao então Comandante Oliveira.  Não fosse esse jovem oficial, com sua garra, dinamismo e sobretudo inteligência, nada teria acontecido em 1972.  E onde anda ele? Dentro dos princípios que regem no Brasil as Forças Armadas, em março deste ano, havendo completado seu tempo de permanência no Almirantado (o mesmo ocorre com Generais ou Brigadeiros), passou para a reserva como Almirante-de-Esquadra quando ocupava o Comando de Operações Navais e a Diretoria Geral de Navegação, do Ministério da Marinha.
E concluindo, menciono todos aqueles que, juntamente comigo, figuram nas placas em homenagem à Comissâo Fundadora, afixadas na sede da SOAMAR – Santos e no monumento ao Marquês de Tamandaré, na Praça Amigos da Marinha, no Parque do Ibirapuera, em Sao Paulo:

Vice-Almirante Sylvio Magalhaes de Figueiredo;
Capitão-de-Mar-e-Guerra Valentim Pereira Ferreira;
Capitão-de-Fragata Carlos Augusto Bastos de Oliveira;
Dr. Antonio Carlos de Castro Machado;
Sr. Rubens da Silva;
Comandante Roberto Coutinho Coimbra;
Professora Walkiria Vilas Boas
(*) Ney Garcia Sotello é ex-Presidente das ASAM,
ASPAM E FENAMAR;
é Diretor da Confederação Nacional do Transporte;
membro do Conselho Curador da FUMTRAN
(Fundação Museu do Transporte, do Sistema CNT)
e do Conselho Consultivo da FENAMAR.
***Obs: Matéria publicada no boletim informativo
FENAMAR – Newsletter  nº 43